quarta-feira, 21 de março de 2012

Sincronicidades Espetaculares: Doctor Who encontra Outlander

não tenho mais canais a cabo na minha tv a cabo, só tv aberta. ainda vou escrever sobre as razões que me levaram a esta situação absurda, irrelevantes no momento. o que importa é que depois que minha novela preferida terminou, e não tinha mais motivos para acordar, resolvi assinar um provedor de filmes pela internet. sem querer criticar o fato de que já assisti a quase todos os filmes, até na sessão da tarde, que não gosto de Chuck Norris, etc etc etc, fiquei feliz de encontrar temporadas da nova fase de Doctor Who e de Torchwood. depois de ficar um tanto viciada - afinal qualquer motivo de alegria é algo especial pra mim atualmente - resolvi escrever sobre isso aqui. comecei uma intensa pesquisa na internet, como uma "whovian" recente, buscando me atualizar. descobri algumas coisas. por exemplo, interessante que na última segunda-feira começaram a passar toda a série nova a partir de 2005, com meus Doctors preferidos, o Nono - Christopher Eccleston - e o Décimo - David Tennant - porém dublada - ugh - na TV Cultura e, mais interessante ainda foi saber que a TV Cultura é a única tv aberta QUE EU NÃO TENHO entre todas as tvs abertas que me restaram. não foi muito terapêutico, devo dizer. puta que o pariu.  então me lembrei da viagem de 2009 para o Clan Gathering em Edinburgo, e que eu conheci um dos "companions" do Doctor, Frazer Hines, que fazia o Highlander Jamie McCrimmon! e que acabei sendo convidada para uma entrevista para a BBC Radio, durante seu encontro com Diana Gabaldon, autora da série Outlander, minha favorita! então a ficha caiu diferente, agora posso compreender como esse encontro foi especial, e eu fiz parte dele, fiz parte de dois universos distintos que se encontraram, dois universos tão intimamente conectados que dá até arrepios: Diana escolheu o Levante Jacobita de 1745 como pano de fundo para sua ficção histórica inspirada pelo jovem personagem de kilt da série clássica de Doctor Who interpretado por Frazer Hines!

outra sincronicidade que tomou um sentido especial agora foi o fato que de um cd de audio com a entrevista, na verdade um especial narrado pelo próprio Frazer Hines, chegou às minhas mãos em 2010, quando voltei à Escócia, cópia feita pra mim, porque participei da entrevista! aí tudo se encaixou: resolvi fazer um dos meus filminhos com o audio da entrevista, com fotos que já tinha de 2007 e 2009, fotos dos livros da Diana, lugares que visitei por causa do livro e até fotos originais da série Doctor Who War Games, com o Segundo Doctor, que foi o inicio de tudo. coloquei todos os créditos possíveis, espero que esteja tudo legal. o filme é longo, não tem legenda - desculpe... - mas fiz uns comentários no meio pra ajudar. passa rápido... espero que os leitores - oiiii, alguém aí? - achem tão espetacular quanto eu!


                                         


errata: onde se lê "errônia", leia-se "errônea" oops!


domingo, 4 de março de 2012

Crônicas Depressivas: Saída sem saída

uma das piores sensações da depressão é o beco sem saída, sentir-se encostada no canto da parede enquanto tudo se desfaz à sua volta e aquela "coisa" vem chegando cada vez mais perto e a dor da alma é insuportável e a medicação tem seu tempo e a terapia também - o tempo da gelatina como aquela minha melhor amiga disse uma vez, não dá pra apressar, se congelar desanda - e você não aguenta mais. muita gente não suporta a pressão e dá aquele último passo na frente do ônibus, ou na beirada do alto do prédio, ou deixa a cabeça pender da janela e levar o corpo junto, ou toma todas as pílulas de uma vez pra dormir pra sempre. tem gente que vai bem fundo mesmo, pra não ter salvação, corta os pulsos tentando fazer a dor física ficar mais forte que a da alma, impede por qualquer método que o sopro de vida entre em seus pulmões ou tem a coragem incrível ou o máximo desespero de apertar um gatilho. no meu caso, estou medicada, mas aí o efeito colateral do remédio, a ideação de suicídio, se torna uma coisa muito real. vem de várias maneiras, às vezes queria não ter nascido, outras vezes queria não acordar, e outras vezes o fim do mundo parece uma coisa boa. 

só que eu tenho uma posição bem firme sobre o suicídio. faz parte do conjunto de crenças e conhecimentos e experiências espirituais coletado ao longo de várias vidas. qualquer dia entro em detalhes sobre minha "profissão de fé", descrevo minha cosmologia, explico melhor o que a ciência quântica e a espiritualidade têm em comum. por hora basta dizer que a morte não é uma saída, apenas uma passagem, entre muitas, no eterno desenrolar da existência na caixa do espaço-tempo. e o suicídio é apenas inútil. é uma triste tentativa de apressar o tempo da gelatina, sair da vida antes da hora, na crença de que depois da morte há o descanso eterno. ou o nada. porque você só quer que "isso" passe. não quer dizer que não haja um espaço-tempo de descanso entre vidas, e esse é bem vindo. só que para o suicida não é um período agradável. sem entrar em muitos detalhes, é um lugar-momento de profundo torpor. não há descanso. não há compreensão dos fatos vividos. não há cura das dores da alma. não há aprendizado, nem evolução, só estagnação. só as lembranças em infindável repetição. do ponto de vista individual, um desperdício imenso e sem sentido. do ponto de vista do quadro geral, um atraso significativo. porque somos todos Um. toda a criação está conectada, já nos diz a ciência quântica. e ninguém pode ficar pra trás. pensando assim, tomamos consciência de uma tremenda responsabilidade pessoal e o suicídio parece um tanto egoísta.

conciliar o desespero intenso com a necessária compaixão é um esforço incomensurável. não temo a morte, talvez somente a forma de morrer, é sempre traumático. assim como nascer, também dói. mas não me sinto capaz de assumir a responsabilidade por um suicídio, não depois de me reconhecer como uma consciência. mas ele está aqui, rondando. sempre perto da data da perícia, tenho alucinações nas quais o pedido de prorrogação é negado e eu penso que vou morrer, ter um ataque cardíaco, desmaiar e quebrar o crânio, sufocar no meu próprio vômito, cenas horríveis. então decidi enfrentá-lo, tirá-lo das sombras. falar dele com meu melhor amigo e rirmos juntos. buscar brechas na lei cósmica como se fosse um bate papo de mesa de bar. a conclusão a que chegamos é que mesmo quando consideramos a hipótese de um acidente, ou de deixar de cuidar da saúde, da alimentação, ou de cair na bebida ou na droga, por exemplo, já assumimos o risco consciente de perder a vida, e isso equivale a um "dolo eventual", um "não querer, querendo, ou não ligando se acontecer". o resultado é o mesmo, a escolha e as consequências. então, não tem uma saída "jurídica". só se o mundo acabar.

no fim do ano tive uma intoxicação alimentar daquelas, com direito a vômito e disenteria, sensação de desmaio com friozinho na espinha e tudo. a primeira coisa que pensei foi mas logo agora? depois de todo esse esforço, essa luta pra tentar aprender alguma coisa com essa situação surreal, eu vou cair de cabeça no chão, sangrar até a morte, toda cagada e vomitada???? aaaahhh, não. isso seria uma verdadeira sacanagem cósmica. e se eu realmente desmaiasse e morresse, seria uma situação legítima, e tecnicamente não seria suicídio. mas escolhi viver, mesmo que viver seja tão doloroso agora. acho que isso é um bom sinal.

pensava em escrever esse post quando ouvi essa música num episódio de Torchwood, spin-off do Doctor Who, que adoro. fiquei apaixonada. comecei a buscar fotos que tivessem a ver com a música, depois comecei a olhar fotos antigas de viagem e fiquei pensando nos lugares onde gostaria de morrer, como o grande azul da Grécia ou as Highlands da Escócia, lugares onde me sinto em casa. no fim, ver as fotos me fez lembrar que há muitos lugares, e pessoas, e músicas, e coisas belas e impressionantes pelas quais vale a pena viver. e sei que não vou estar sozinha quando atravessar de novo a porta, sempre houve alguém lá pra me levar pela mão e me lembrar quem sou.