quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Crônicas Depressivas: Dilema Hamletiano II: Tirar licença ou não tirar licença? Eis a questão


juro que tentei de tudo, fiz tudo o que eu pude pra não chegar aqui. quando comecei a medicação achei que estava funcionando, remedinho bão, enfrentei os percalços da viagem de férias, me sentia equilibrada, triste ainda, dois episódios de ansiedade, restaurante cheio, crianças gritando e correndo de lá pra cá, gente falando alto - e eu já
http://jackasscritics.com/movie.php?movie_key=263    estava com a hiperacusia, a audição amplificada, tudo soava muuuuito mais alto - bom, achei que dava pra enfrentar a normalidade, o trabalho, a vida, enfim. não durou uma semana. logo fiquei doente e entrei inadvertidamente nos primeiros 15 dias de licença, de responsabilidade do empregador. já contei como foi esse período de terror. tentei voltar, mas foi o tempo de procurar o serviço de assistência social do meu trabalho. quero mencionar que minha assistente social foi outro anjo, entendia totalmente minha situação, e me explicou sobre a papelada necessária para o pedido de auxílio doença, benefício a cargo do INSS e complementado pela previdência complementar. mas antes, a perícia médica. pra mim a primeira sensação de angústia começou com o desconhecido, como uma prova oral diante de uma banca, pra falar sobre um assunto que eu não conhecia. a primeira perícia foi massacrante, só o fato de ter que sair de casa, sozinha, pegar taxi, enfrentar engarrafamento no Centro pra chegar até o posto, pegar senha, esperar, segurando firme a pasta com os laudos da terapeuta e da psiquiatra, receitas dos medicamentos, documento de identidade, contar a história comprida toda. afinal é um perito só. mesmo assim chorei. depois tive que levar o resultado para a assistente social. eu tremia inteira só de voltar ao prédio onde trabalho. medo, vergonha de encontrar alguém, me sentindo feia, suja, um farrapo de gente. depois do primeiro período, geralmente de 2 meses, tenho que voltar lá, com o pedido de prorrogação, e passar por tudo de novo. é como estar no corredor da morte, esperando a hora da execução ou mais uma apelação. a sala lotada, a espera, o pânico, e se o benefício não for prorrogado? e se eu tiver que voltar? não estou pronta! e se eu perder o emprego? e se me transferirem pra outro setor, começar tudo de novo, com essa idade? e já com fama de doida carimbada e certificada? menos de 10 anos pra aposentadoria, vou viver de quê? depois de anos de trabalho, como é que eu fico ? e se? e se? começo a sofrer um mês antes, geralmente junta com a tpm, e aí é um bungee jumping emocional, quase sinto os cabelos do povo do poço sem fundo roçando meu rosto. enfim, espero a próxima perícia pro mês que vem. o mais irônico é que passei a vida fazendo de tudo pra parecer normal. agora só tenho que ser eu mesma, triste, desequilibrada, apavorada, descuidada com a aparência, sem vontade. de nada.


Crônicas Depressivas: Dilema Hamletiano I: Medication or not medication? That's the Question

a possibilidade de "entrar na medicação" foi aventada desde o início da terapia. mas eu não queria, era quase uma confissão de fracasso. mas naquele momento, quando tudo caía a minha volta, inclusive eu, pela rua, percebi uma coisa muito estranha e assustadora. fora a tristeza e o medo, eu não conseguia sentir mais nada. não conseguia apreciar as coisas boas que ainda aconteciam. ou ficava 
http://luciointhesky.wordpress.com/2011/06/25/hamlet-de-laurence-olivier-e-obra-prima/  indiferente, ou irônica, ou com raiva. ou mais triste ainda. acabei tendo que dar o braço a torcer. consultei uma psiquiatra, que me explicou o tipo de remédio que eu iria tomar. ISRS ou inibidor seletivo da recaptação da serotonina. fiz umas pesquisas na internet e aprendi - bom, estou escrevendo de cabeça, posso estar falando bobagem - que a serotonina é um neurotransmissor, uma proteína, um peptídio responsável por sensações de bem estar, da família das famosas endorfinas. os  neurônios, as células cerebrais, possuem receptores  para os neurotransmissores, como se fosse uma tomada se acoplando ao plug. com a depressão, esse mecanismo de recaptação fica meio doido, então o remédio dá uma regulada, mantém a serotonina mais tempo no meio. o que o remédio não faz é aumentar o nível de serotonina, que pode ou não estar baixo. pedi pra começar com uma dose mínima, pois parece que esses remédios têm efeitos estranhos na minha família, efeitos contrários ao que se espera deles. isso foi em junho de 2011, e aos poucos a dosagem vem aumentando. é um medicamento de tarja vermelha que somente pode ser vendido com retenção de receita e com apresentação de documento de identidade. o grupo dos ISRS não é de última geração, foi lançado nos anos 80, se não me engano. muitos amigos questionaram que surgiram outras coisas "mais modernas". só que minha terapeuta explicou que essas formulações mais antigas só contém a tal substância ativa e mais nada, já as mais modernas misturam outras coisas, e essas é que podem ter efeitos colaterais e causar dependência. ok, ok, o ISRS não é bala Juquinha, tem efeitos colaterais sim. o mais interessante de todos é a "ideação de suicídio". não, sério, vamos combinar, é muuuuito irônico. eu ri. acho que vou ter que fazer um post só sobre suicídio, mas já posso adiantar que, pra mim, não é uma saída, aliás, pra ninguém. enfim.

mas não parou por aí. por mais que não quisesse tomar remédio, acabei tendo que tomar mais um. a insônia, minha fiel companheira, melhor dizendo, esse encosto que não me larga há uns vinte anos, pelo menos, essa não vai embora. e o pânico piorando cada vez mais... caí no ansiolítico. é, tarja preta, a temida, venda com receita médica, aquele formulário azulzinho, e "o abuso deste medicamento pode causar dependência". o pior dos meus pesadelos. a dose é bem fraca. a insônia continua aparecendo como sempre, na madrugada, e o sono vem durante o dia. 

tive uma vizinha há muito tempo, da minha idade, aposentada por invalidez, um dia bateu na minha porta passando mal, taquicardia, com a mudança do remédio. a mãe não estava em casa, não conseguia taxi, eu já pensava em levar pro pronto socorro. ela disse que só queria conversar, que já ía passar. fui ao apartamento dela, dei água com açúcar, ela ficou sentada, e conversamos, eu tentando acalmá-la, rezando, jogando luz, me sentindo completamente impotente. a mãe dela chegou e ficou por isso mesmo. na época pensei "nossa, deus me livre disso acontecer comigo". ô língua! bom, dizem que aquilo que mais tememos vem nos encontrar no meio do caminho. sou prova viva disso.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Elocubrações Esparsas: Alalaôôôôôôôô!

poizé, carnaval. juro, queria gostar. vejo as pessoas tão alegres nos blocos. as fantasias engraçadas. a batucada até dá uma mexidinha lá no fundo. até o espetáculo pra inglês ver, apesar do negócio envolvido, ainda tem uma emoção real. eu sei, eu desfilei uma vez, debaixo de chuva e com o dia nascendo. foi impactante. não faria de novo, mas valeu. sempre fui pra longe no carnaval. um sítio no meio do mato. ano passado acho que viajei. dessa vez fiquei em casa mofando, dormindo, sem nada pra ver na tv que não seja carnaval. queria gostar. juro.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Saltos Quânticos: Tempo, Tempo, Tempo, Tempo...

quétinganá não, mas o tempo não existe. é uma ilusão, uma percepção pra nós, que vivemos imersos nas considerações das três dimensões, habitantes da caixa. se a gente pensar bem em palavras como eternidade, dá pra suscitar algumas perguntas. a gente sempre pensa que eterno é uma coisa "pra sempre", mas não pensa que eterno também é uma coisa "desde sempre". a eternidade é e ponto. pensando um pouco fora da caixa, imagine que tudo o que aconteceu, e não aconteceu, acontece e não acontece, e acontecerá e não acontecerá simplesmente existe, ao mesmo tempo, e digo isso só pra facilitar, já que o tempo não existe; melhor dizendo, existe fora do tempo - e, de quebra, fora do espaço, já que o espaço é medido pelo tempo decorrido para percorrê-lo, né? um está ligado ao outro, como os dois lados de uma moeda.... enfim, cada caminho escolhido, cada caminho não escolhido, todas as possibilidades de existência e não-existência de todas as coisas. imagine que uma superconsciência contém o banco de dados de tudo e de nada, contém, está contida e simplesmente é o Todo. depois da mudança para o paradigma quântico - que ainda vai aos trancos e barrancos - muitos cientistas, filósofos, teóricos, estão buscando a Teoria do Tudo, algo que consiga conciliar as incompatibilidades entre a teoria da relatividade e a física quântica, e mais algumas coisinhas que não se encaixam no método científico, principalmente porque há mais resultados fora do padrão teoria+experimento+resultado+várias repetições do experimento+mesmo resultado=prova, do que dentro. as anomalias, resultados aparentemente aleatórios, acabam virando a regra. em vez de uma natureza mecânica, fria, automática, percebe-se uma realidade vibrante, pulsante, de energia condensada em várias texturas de matéria, tão interessante aqui, dentro da caixa, e muito maior, espetacular, fora dela.

mas então, a pergunta que não quer calar: por que o tempo existe? na verdade, a pergunta mesmo é pra quê? bom, eu passei uns bons dois terços dessa vida achando que o tempo é uma maldição. é relativo, demora a passar quando estamos esperando, passa depressa demais quando precisamos dele, nos faz envelhecer. e tem o carma, ainda por cima. estar presa na roda das encarnações, sem lembrar das antigas, só fazendo merda, de novo, aumentando o débito no credi-carma, que ainda tem juros altíssimos, uma dívida que você nunca vai conseguir pagar. eu tinha uma postura bem fatalista, digamos um fatalismo esclarecido e proativo, quanto ao carma: se estou passando por uma determinada situação, alguma coisa preciso aprender sobre aquele padrão de reação. tipo, não sei porque estou apanhando, mas o carma sabe porque está batendo. então eu me entregava e tentava descobrir que porra eu tinha que aprender. quando descobri a física quântica - com um século e uns quebrados de atraso - tive um momento "wow", como eles dizem no livro, mas eu chamo de "momento muito foda". aliás foram alguns, múltiplos. primeiro consegui conciliar eternidade e tempo. o tempo é uma ilusão criada para permitir a cada um ser o experimento da existência e aprender. o operador-observador que habita meu avatar de carne fez uma escolha quântica e colapsou essa realidade ilusória, por razões que confesso desconhecer mas acredito que devem ser sábias. depois descobri que em algum momento me tornei refém da mente, por isso sofri tanto, vivi tantos dramas, fui a vítima do universo tantas vezes. mas o operador pode retomar o controle e fazer uma limpeza geral no hd. e aí vai (vou, vamos...) poder fazer escolhas melhores. ZERO DRAMA. hoje, vejo o tempo como um presente, um passaporte para inúmeras aventuras pela busca do conhecimento. mas, como o tempo não existe, essas aventuras são um meio, importantíssimas, mas nem tanto. não a ponto de matar, morrer, fazer alguém sofrer, ferir a ética, romper a lealdade, corromper a inocência, vandalizar a beleza, vulgarizar o amor. sou imensamente grata pelo presente do tempo. mas algo me diz que a verdadeira aventura nem começou. e, melhor do que isso, sou uma consciência e, por definição, livre.


http://www.youtube.com/watch?v=3MEPW0gSUz4

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Crônicas Depressivas: Ataque de Pânico ou "Mas você tá melhorando?"

não tenho dúvidas de que essa é a pior parte do processo. ali estava eu, devidamente terapeutizada. a crise mais ou menos sob controle. tirei uns dias pra viajar, o mar sempre me recarrega. mudei o visual, na certeza de que uma mudança externa ajudaria na mudança interna. mas ele foi chegando devagarinho. o primeiro choque foi a queda no desempenho no trabalho. porque tudo mais podia falhar, a vida doméstica, a ausência total e/ou a total decepção com os relacionamentos, o descuido com a saúde, o afastamento dos amigos e da família, a vida social inexistente. tudo, menos o trabalho. e foi aí que o poço ficou sem fundo. o medo de falhar se tornou relevante, ou sempre foi o problema, ainda não sei. a insônia só piorou. acordar virou um inferno, literalmente. a primeira palavra do dia passou a ser "porra". porque tinha acordado e ía começar tudo de novo. então ou eu chorava, ou ficava sentada, catatônica, olhando da parede para o relógio, para a parede, para o relógio, uma tortura que levava umas duas horas. os atrasos pioraram. a concentração se tornou quase impossível, errática. ao mesmo tempo o dia custava a passar, e eu só pensava em ir pra casa, pra cama, pro ninho. apesar de ter decidido cuidar da saúde, ela começou a declinar. homorragias, febres, dor no corpo, até pensaram que eu tinha dengue. não tinha. começaram as tonteiras, comecei a cair na rua. um dia, depois de um almoço normal no lugar de sempre, senti enjoo, a pressão baixou, subiu aquele geladinho pela coluna, e eu pensei que ía desmaiar na rua. cheguei a tomar soro no ambulatório, mas a pressão não subia. resolvi sair de férias, o que significou duas decisões: entrar na medicação e tentar evitar uma licença médica a qualquer custo. vou falar dessa parte em detalhes, mas pra encurtar a história, passei relativamente bem durante a viagem, achei que o remédio estava resolvendo. voltei, trabalhei uma semana, fiquei doente e não saí mais da cama por 15 dias. os primeiros 15 dias que passaram a ser, bem, a minha vida nos últimos 7 meses. já não bastava chorar de manhã, começava a chorar à noite já pensando que teria que acordar no dia seguinte. dormia durante o dia. praticamente não comi. no décimo dia a fome me fez sair de casa, e eu fui, trêmula, o radar carioca super ativado, repetindo mentalmente o que precisava fazer, pegar dinheiro, comer, comprar alguma coisa pra comer em casa. o primeiro ataque veio na fila das Lojas Americanas, soterrada no corredor de baleiros, imprensada entre pessoas e carrinhos de compras. o coração quase saiu pela boca, taquicardia, tonteira, vontade de chorar, de gritar, de sair correndo dali, pra casa, pra cama, pro ninho. cheguei em casa aos prantos. na verdade não foi o primeiro, durante a viagem tive dois episódios de pânico, de querer sair de restaurantes lotados e ir pra casa, já. tentei voltar ao trabalho depois dos primeiros 15 dias, mas no primeiro dia percebi que não conseguiria. "mas você tá melhorando?" e eu só queria chorar, e tentava em vão explicar que o processo seria mais longo do que se imaginava. a situação ficou insustentável, e eu procurei o serviço social para solicitar o auxílio doença. a sensação de falha é devastadora. mesmo aumentando lentamente a dosagem da medicação, mesmo entrando no ansiolítico, aquele de tarja preta que pode causar dependência, mesmo sabendo que a depressão é literalmente oscilação, até o equilíbrio, bom, saber não adianta muito. minha vida se tornou essa coisa surreal, não saio da cama na maior parte do tempo, não saio de casa, só se a comida acabar. não consigo me afastar do "raio de segurança", mais ou menos dois blocos da minha casa. desenvolvi claustrofobia e agorafobia, e agora antropofobia. é, medo de gente, de crianças saindo do colégio com suas mochilas de rodinhas, se arrastando, falando, subindo nas grades, e eu carregando sacolas pesadas com coca-cola e suco, e alguma coisa de comer. desenvolvi uma coisa que eu nem sabia que tinha nome, hiperacusia, ou seja, audição amplificada. tudo me incomoda e assusta e irrita, as cigarras de manhã e à noite, os cachorros da vizinhança, o caminhão de lixo de madrugada, os morcegos, as obras no prédio, na minha rua, em todas as ruas do bairro, sei lá. as crianças gritando no colégio do fim da rua. até o aparelho de ar condicionado móvel, que inaugurei esse mês, me enlouquece. e agora, pra completar, tenho pânico de ir à cidade a cada dois meses, pra fazer a perícia do INSS, e conseguir a prorrogação do benefício. então, se você pensava que sair de licença médica por causa da depressão é como sair de férias, pense de novo. quando a oscilação é para cima, é quase bom. já arrumei os sapatos, o armário, joguei fora caixas vazias. mas isso não é nem o começo da solução do problema mais profundo, do esqueleto recentemente desenterrado na terapia: toc, toc, posso entrar? mas essa é outra história comprida...



http://www.youtube.com/watch?v=5hDs6mCVAKs&feature=related

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Saltos Quânticos: Miojo Quântico

(noções livremente colhidas do livro Quem Somos Nós? vou tentar ser fácil e instantânea, mas não vou usar o tempero de pacotinho, vou fazer o meu). bom, a parte "científica", por assim dizer, começa com os gregos dizendo que o átomo, o núcleo sólido com elétrons em sua órbita, era indivisível, o bloco primário de construção da natureza, tipo a peça de Lego fundamental. desde lá, o átomo foi visto de várias maneiras: primeiro descobriu-se que o núcleo é divisível em prótons e neutrons; então o átomo foi visto como um pacote de energia; depois passou a ser visto como "condensações momentâneas de um campo de energia". e que o espaço vazio entre o núcleo e a órbita dos elétrons não é vazio, mas também cheio de energia, tanta que "o volume de uma bolinha de gude contém mais energia que toda a matéria sólida existente no universo conhecido". a parte não-científica vem de muito antes, dos sábios da Índia, que diziam que a realidade "que percebemos através dos sentidos é maya ou ilusão", e que existe algo mais além. aí a física quântica, mais ou menos 100 anos atrás, surgiu quando os pensadores perceberam que o arsenal da ciência cartesiana, mecânica, era muito boa para explicar coisas do macrocosmo, não era capaz de explicar as coisas do mundo do microcosmo, subatômico, esse "espaço vazio" esse "domínio não-físico, que pode ser chamado de informação, ondas de probabilidade ou de consciência." e a teoria quântica revelou coisas muito estranhas:

1) que uma mesma partícula pode estar em dois lugares ao mesmo tempo.
2) que o mesmo objeto pode se apresentar como "uma partícula, localizada em um lugar determinado, ou como uma onda, espalhada pelo espaço e pelo tempo", como ondas sonoras ou ondas na água.
3) que, contrariando Einstein, partículas quânticas não só viajam mais rápido que a luz, como podem se comunicar instantaneamente, independente da distância entre elas. quer dizer que uma alteração em uma partícula acontece instantaneamente na outra, mesmo que elas estejam em lugares opostos do universo.
4) que, ao contrário de quatrocentos anos de separação entre objeto e sujeito, na física quântica o observador interfere, influencia o comportamento do objeto observado, ou seja, o observador está dentro da experiência.
5) e que uma onda de probabilidades "colapsa", ou seja, se torna uma partícula, no momento em que é observada.

daí surgiram vários conceitos novos:

1) salto quântico é a qualidade do eletron de mudar de posição na órbita do átomo sem se deslocar, ou seja, desaparecendo e reaparecendo em outro lugar instantaneamente.
2) onda de probabilidade vem do fato de que não é possível saber onde o eletron vai "reaparecer", somente calcular as probabilidades do novo local do colapso.
3) incerteza é o princípio pelo qual não é possível medir ao mesmo tempo e com precisão a velocidade e a posição de uma partícula.
4) não-localidade/emaranhamento quântico são os mais interessantes de todos: primeiro, no mundo subatômico "tudo é não-localizado", ou seja, nada existe em um único lugar. segundo, as partículas se comunicam instantaneamente porque na verdade tudo está se tocando o tempo todo. assim, tempo e espaço não se aplicam ao mundo subatômico.
5) o observador implica consciência. o observador consciente, diante da onda de probabilidades, faz uma escolha, colapsa a onda, e cria uma realidade.
 
a física quântica surge propondo uma mudança de paradigma, suscitando perguntas e mais perguntas, não só para a ciência, mas também para nós, humanos. isso é uma mudança muito radical no jeito de pensar a realidade. além de ser muuuuuuito interessante! então, repito a outra pergunta do cabeçalho: quem está fazendo as escolhas?

o video é pra ler comendo, quer dizer, ouvindo...





Elocubrações Esparsas: O amor é estranho

não é bem assim. o Amor eu entendo. sério. o Amor que é e ponto. o ser humano é que é estranho.  monogamia, poligamia, infidelidade, infidelidade consentida, casamento, viver junto, viver separado, casamento com presidiários, casamentos arranjados, sexo sem casamento... a variedade dos tipos de relacionamentos entre humanos, e entre humanos e coisas (vi na NetGeo, isso se chama objetofilia) é infinita, tanto quanto são únicos os humanos. a própria noção de gênero já extrapola descrições tradicionais e ultrapassadas.

já postei um diagnóstico no blog da psicótica sobre a questão do feminino e do masculino. mas ainda que utilize os termos homem e mulher, acho que a coisa tem muito pouco a ver com a concha externa, o avatar de carne. dito isso, replico aqui as elocubrações:

vi no Discovery Channel que o cérebro masculino tem mais neurônios, mas ele funciona matricialmente, tipo impressora, tem que completar primeiro uma tarefa, depois passar pra outra. nós temos menos neurônios, em compensação somos multitarefa, podemos organizar as tarefas de modo lógico, de acordo com o tempo necessário e a complexidade da execução.

homens e mulheres falam línguas diferentes, quer dizer, existem as mesmas palavras e expressões, mas o significado é diferente. na estorinha daquele famoso livro, homens de Marte e mulheres de Venus resolveram se encontrar no meio do caminho - a Terra e, percebendo as diferenças de sentido, escreveram um dicionário de desambiguação. só que este manual importantíssimo se perdeu, por isso vivemos a Babel que é a relação homem-mulher. 

fábulas à parte, faz sentido: quando nós mulheres temos um problema, geralmente choramos no ombro de uma amiga, da irmã, do amigo gay, da terapeuta, da cabeleireira... não necessariamente buscamos uma solução, ou porque não há nenhuma, ou a que existe não é factível, ou podemos viver com aquilo, um trabalho chato, por exemplo, só queremos compartilhar nossas dores, ouvir opiniões de nossas companheiras que passam por problemas semelhantes e ver validados nossos sentimentos a respeito do assunto. 

o problema é que a gente chega em casa e fala pro marido, nossa, que dia horrível no trabalho. o homem vê, MESMO, a situação de maneira diferente. o homem é movido pela solução de um problema. ele provavelmente vai dizer "troca de emprego se você não está satisfeita". aí você fica indignada porque só queria um abraço e como é que ele pode ser tão insensível assim, não é o trabalho, são meus sentimentos e ele não dá a mínima. você fala isso alto, talvez já com lágrimas nos olhos. e ele não entendeu nada. sério. ele achou que estava te ajudando com uma solução.

a mesma coisa acontece quando ele tem um problema. ele vai se concentrar só naquilo, até resolver. você, como boa venusiana, vai querer dar apoio, oferecer seu ombro pra ele chorar, dizer, fala comigo, como você se sente e ele provavelmente vai desconsiderar isso e entrar no momento caverna, ignorar você. e você vai ficar indignada, como ele pode ser tão insensível, eu estou aqui, dando carinho, dando meu apoio, e ele é tão frio, grosso comigo. e vai ficar ainda pior, porque quando ele sair da caverna com o problema resolvido, todo orgulhoso, vai te tratar como se nada tivesse acontecido, todo feliz e cheio de amor pra dar. e você vai achar um displante, um desrespeito, uma cara de pau, me trata assim agora vem querer me comer, agora eu é que não quero, e briga com ele. e ele não vai entender nada. sério.

acho que a questão é agir com sabedoria. entender as diferenças e aprender a lidar com elas. então, da próxima vez que ele entrar na caverna, ou se houver um importante jogo de futebol, tipo Chiqueirão EC x Meia Suja Futebol Clube (nota: os jogos de futebol são sempre importantíssimos), NÃO é hora de DR (= discutir relação). e da próxima vez que ela chegar reclamando do trabalho, dê um grande abraço nela, um beijo gostoso, pergunte se ela quer ajuda pra uma solução e, se ela não quiser, só diga que tudo vai ficar bem. ZERO DRAMA!



domingo, 12 de fevereiro de 2012

Saltos Quânticos: Mais da mente

pois é, a mente. tão supervalorizada no mundo cartesiano, no nosso pequeno mundo dentro da caixa das três dimensões. sempre me interessei por esses assuntos "do outro lado", "do lado de fora" da caixa. como não existem coincidências, apenas leis que desconhecemos, a fase deprê acabou por me reconectar com o campo, com a senda. por estranho que pareça, foi uma fase de muitos livros, livros que já tinha e não li, autores que amo e revisitei. finalmente li "Quem somos nós", o livro depois do filme e surtei, no bom sentido. sabe quando você encontra várias coisas que você já tinha lido ou ouvido muito tempo atrás ou através dos anos, reunidas de forma clara, praticamente didática, e você vai lendo e lembrando e acrescentando novas informações ou maneiras diferentes e novas de apresentar conhecimentos antigos? pois foi o que aconteceu quando li esse livro. o nome do blog - Cozinha Quântica - é inspirado nele. acho que pela primeira vez consolidei meu entendimento do que é a mente, não apenas racionalmente, mas de uma forma integral, intensa, extática.

costumo dizer que a mente é um software, um conjunto de programas que roda no hardware, que é o cérebro, uma máquina orgânica que funciona na base da eletroquímica. se tudo funcionasse conforme o projeto original, a mente seria uma ferramenta a serviço do operador para gerenciar o funcionamento do hardware e de tudo o que ele controla, ou seja, nosso corpo, nosso avatar de carne, que permite nossa interação na dimensão espaço-tempo. ora, todo software tem bugs, vírus, cookies. e pior, tem algumas partes que funcionam automaticamente, repetindo a programação, até que o operador faça a atualização ou delete aquele determinado programa, porque ele não serve mais ao seu propósito. o que acontece dentro da nossa caixa do espaço-tempo é que, por razões que eu talvez aborde em posts futuros, a mente assume o poder, isola o operador, tipo Tron, e passa a repetir indefinidamente padrões, de comportamento, de reação, de pensamentos, de ideias. e a coisa fica mais confusa quando entram na equação as emoções, pois quanto mais intensas as emoções, mais profundamente elas são gravadas e transformadas em programações no padrão de auto-repetição.

então repito a pergunta que já fiz no cabeçalho: quem é o operador? o livro responde: o operador é a consciência. e quem é essa entidade misteriosa? a consciência sou eu. é você. é cada um de nós. só que somos reféns da mente, e aí... é foda.

Crônicas Depressivas: A Terapia

venho fazendo um scrapbook da minha jornada ao fundo da alma, e achei que nada melhor do que a página ao lado para explicar como acontece o processo terapêutico, a arqueologia emocional. sim, porque o gatilho da crise, que ocorreu na madrugada do segundo dia do ano de 2011, me catapultou para uma depressão considerada leve. todo mundo que tomou conhecimento, inclusive eu, acreditou que seria rápido, que eu tiraria de letra essa fase ruim. menos minha terapeuta. o gerenciamento da crise foi só o começo. 

a pergunta que eu mais escuto de amigos e pessoas da família é "como uma pessoa tão inteligente, esclarecida, espiritualizada, profissional competente e experiente, talentosa, viajada, entrou numa dessa e não consegue sair?" bom, eu me fiz a mesma pergunta. foi difícil admitir que eu caminhei voluntariamente para o "evento", o gatilho da crise; foi difícil aceitar como reagi a tudo; foi mais difícil ainda perceber que a crise era apenas a ponta do iceberg. que a insônia crônica, a tortura de levantar todo dia de manhã, o descuido com a casa, com a saúde, as crises de sinusite sazonais, a exaustão constante, a dor física inespecífica, a imensa tristeza que sentia desde sempre, tudo fazia parte do mesmo pacote. foi difícil porque eu não queria admitir. não podia. não queria uma tabuleta no pescoço dizendo "louca do andar". não queria um carimbo na testa informando que sou uma doida certificada.

então eu fingi. que era normal. um tanto excêntrica, talvez. e tentei me curar sozinha quando vinham as crises eventuais. uma das frases memoráveis da minha terapeuta é "a mente que mente descaradamente". a mente me permitiu criar explicações plausíveis e perfeitamente lógicas pra tudo o que eu não queria reconhecer. então o tratamento não é consertar a mente, mas aprender o sentir. jogar fora as máscaras, o manto da invulnerabilidade. viver a vulnerabilidade, ficar em carne viva. desenterrar esqueletos de mágoa e emoções mumificadas. e um dia ficar livre. 

acho que é como a dor de crescer, e esquecer, é como interpreto os cavalos alados da música. mas a hora é de lembrar. mesmo que doa.



Crônicas Depressivas: A grande desconhecida

"A depressão é uma doença da Alma". esta frase é da minha terapeuta, um anjo que vem me conduzindo nas escavações do que eu chamo de arqueologia emocional.  a depressão é uma doença complicada. não aparece nos exames clínicos, apesar de afetar o equilíbrio físico-químico de todo o organismo. não é como um tumor, não aparece na tomografia, nem dá pra remover com cirurgia. os profissionais da saúde diretamente envolvidos, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, esses sabem muito bem a gravidade da doença e o impacto que tem sobre o mercado de trabalho. a depressão está se tornando uma das maiores causas de afastamento das atividades laborais no país. apesar do estigma social, que permanece. ou, quem sabe, por causa dele. assim como levou alguns séculos para que ficasse claro que tesão feminino não é uma doença mental, a histeria, ainda soa como novidade pra muita gente que depressão é uma doença, não frescura de mulher sem "ter a pia cheia de louça pra lavar". inclusive, li recentemente no yahoo que homem também tem depressão (duh...), só que a maioria, em vez de chorar, fica zangado, violento ou se isola. não se enganem, são só maneiras diferentes de reagir. ah, e a depressão é democrática, atinge  milhares de pessoas, independente de gênero, condição social, etnia, idade... sem falar no "dilema do Tostines": a depressão é causada por um desequilíbrio químico no cérebro ou é a causadora de um desequilíbrio químico no cérebro? a abordagem da minha terapia faz sentido pra mim: a depressão é causada por uma grande raiva, que vira uma grande mágoa, e depois uma grande tristeza. e causa um desequilíbrio químico/hormonal geral, atrapalha o funcionamento do sistema de recaptação da serotonina cerebral, ou seja, um verdadeiro tsunami. qualquer situação estressante, traumática, pode desencadear uma depressão. mas não é nada difícil que ela se torne crônica. aí, é foda.

p.s. só pra esclarecer, não sou médica, nem psicóloga. como diz a minha terapeuta, não tenho diploma de medicina em Harvard. sou apenas uma pa-ci-en-te. meu espaço, parafraseando minha querida psicótica, é o divã, e não a poltrona. sou só uma paciente que lia livros de medicina quando era criança, aqueles fascículos que tinham fotos, sabe, e que assiste Discovery Health e House. gosto de medicina alternativa também, fiz um curso de medicina ayurvédica. ah, lembrei, sou técnica em fisioterapia nível segundo grau, até fiz estágio em hospital. passei na primeira fase do vestibular pra medicina no segundo ano do segundo grau... enfim, se persistirem os sintomas, não faça como eu, não tente se tratar sozinho, procure um profissional especializado. 

quanto ao video, eu acho que é possível encontrar beleza no colapso.

Crônicas Depressivas: O poço sem fundo

um dia comentei com minha melhor amiga que pior do que estar no fundo do poço é quando o poço não tem fundo. explico. quando o poço é um poço normal, com fundo, chega uma hora em que você consegue dar impulso e começa a subir, flutuando ou nadando furiosamente, como puder, se agarra na borda, até sair finalmente. mas e quando o poço não tem fundo, o que acontece, a gente vai caindo, caindo, indefinidamente, pela escuridão eterna? ela deu um muxoxo (é, foi isso mesmo) e disse "se preocupa não, quando o poço não tem fundo você acaba caindo em cima da cabeça do povo que já tá lá embaixo..." muito sábia, a minha amiga. um tanto cruel, mas sábia. deu até música. ainda não senti a cabeça de ninguém debaixo dos meus pés, o que seria bem desagradável, diga-se de passagem. também não gostaria de pensar que a minha cura depende de tomar impulso pisando na cabeça de quem está pior do que eu... enfim, posso tirar pelo menos uma conclusão, ou pelo menos posso ter uma esperança: eu podia estar pior... aos poucos vou explicando como cheguei aqui, mas posso adiantar que estar num poço sem fundo é muito estranho. você vê e ouve a beleza, sabe que ela está ali, sabe que sabe, mas o sentimento fica cego, surdo e mudo. e isso é quase devastador.


sábado, 11 de fevereiro de 2012

Prólogo

esqueci completamente como mudar a cara do blog. faz um tempão que criei o outro, eu sabia tudo... ou quase. enfim, só queria a foto centralizada e outra cor de fonte. bom, por enquanto fica assim. um querido amigo disse que eu tinha que escrever "publicamente", já que escrevo desde os 12 anos, talvez até antes, poemas, quadrinhos... escrevo desde sempre, diários, canções, histórias. resolvi tentar. ver no que dá. vou falar de coisas pesadas, como depressão. vou falar de coisas mais leves, como música. e de coisas filosóficas, quiçá bizarras. vou falar daquilo que sei e conheço. ok, confesso, ainda me atrapalho com o hífen. e eu sei que "quântica" tem acento. mas resolvi não colocar, pra evitar caracteres espúrios. espero que pelo menos meu amigo querido leia, além de mim... ou fica pra posteridade. se bem que quando puxarem o plug do mundo, nossa civilização digital estará perdida para sempre. mas essa é outra história. espero que dê pra ouvir a música, já conhecia, mas de repente ela tocou diferente, sei lá.