quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Crônicas Depressivas: Dilema Hamletiano II: Tirar licença ou não tirar licença? Eis a questão


juro que tentei de tudo, fiz tudo o que eu pude pra não chegar aqui. quando comecei a medicação achei que estava funcionando, remedinho bão, enfrentei os percalços da viagem de férias, me sentia equilibrada, triste ainda, dois episódios de ansiedade, restaurante cheio, crianças gritando e correndo de lá pra cá, gente falando alto - e eu já
http://jackasscritics.com/movie.php?movie_key=263    estava com a hiperacusia, a audição amplificada, tudo soava muuuuito mais alto - bom, achei que dava pra enfrentar a normalidade, o trabalho, a vida, enfim. não durou uma semana. logo fiquei doente e entrei inadvertidamente nos primeiros 15 dias de licença, de responsabilidade do empregador. já contei como foi esse período de terror. tentei voltar, mas foi o tempo de procurar o serviço de assistência social do meu trabalho. quero mencionar que minha assistente social foi outro anjo, entendia totalmente minha situação, e me explicou sobre a papelada necessária para o pedido de auxílio doença, benefício a cargo do INSS e complementado pela previdência complementar. mas antes, a perícia médica. pra mim a primeira sensação de angústia começou com o desconhecido, como uma prova oral diante de uma banca, pra falar sobre um assunto que eu não conhecia. a primeira perícia foi massacrante, só o fato de ter que sair de casa, sozinha, pegar taxi, enfrentar engarrafamento no Centro pra chegar até o posto, pegar senha, esperar, segurando firme a pasta com os laudos da terapeuta e da psiquiatra, receitas dos medicamentos, documento de identidade, contar a história comprida toda. afinal é um perito só. mesmo assim chorei. depois tive que levar o resultado para a assistente social. eu tremia inteira só de voltar ao prédio onde trabalho. medo, vergonha de encontrar alguém, me sentindo feia, suja, um farrapo de gente. depois do primeiro período, geralmente de 2 meses, tenho que voltar lá, com o pedido de prorrogação, e passar por tudo de novo. é como estar no corredor da morte, esperando a hora da execução ou mais uma apelação. a sala lotada, a espera, o pânico, e se o benefício não for prorrogado? e se eu tiver que voltar? não estou pronta! e se eu perder o emprego? e se me transferirem pra outro setor, começar tudo de novo, com essa idade? e já com fama de doida carimbada e certificada? menos de 10 anos pra aposentadoria, vou viver de quê? depois de anos de trabalho, como é que eu fico ? e se? e se? começo a sofrer um mês antes, geralmente junta com a tpm, e aí é um bungee jumping emocional, quase sinto os cabelos do povo do poço sem fundo roçando meu rosto. enfim, espero a próxima perícia pro mês que vem. o mais irônico é que passei a vida fazendo de tudo pra parecer normal. agora só tenho que ser eu mesma, triste, desequilibrada, apavorada, descuidada com a aparência, sem vontade. de nada.


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