quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Crônicas Depressivas: Dilema Hamletiano I: Medication or not medication? That's the Question

a possibilidade de "entrar na medicação" foi aventada desde o início da terapia. mas eu não queria, era quase uma confissão de fracasso. mas naquele momento, quando tudo caía a minha volta, inclusive eu, pela rua, percebi uma coisa muito estranha e assustadora. fora a tristeza e o medo, eu não conseguia sentir mais nada. não conseguia apreciar as coisas boas que ainda aconteciam. ou ficava 
http://luciointhesky.wordpress.com/2011/06/25/hamlet-de-laurence-olivier-e-obra-prima/  indiferente, ou irônica, ou com raiva. ou mais triste ainda. acabei tendo que dar o braço a torcer. consultei uma psiquiatra, que me explicou o tipo de remédio que eu iria tomar. ISRS ou inibidor seletivo da recaptação da serotonina. fiz umas pesquisas na internet e aprendi - bom, estou escrevendo de cabeça, posso estar falando bobagem - que a serotonina é um neurotransmissor, uma proteína, um peptídio responsável por sensações de bem estar, da família das famosas endorfinas. os  neurônios, as células cerebrais, possuem receptores  para os neurotransmissores, como se fosse uma tomada se acoplando ao plug. com a depressão, esse mecanismo de recaptação fica meio doido, então o remédio dá uma regulada, mantém a serotonina mais tempo no meio. o que o remédio não faz é aumentar o nível de serotonina, que pode ou não estar baixo. pedi pra começar com uma dose mínima, pois parece que esses remédios têm efeitos estranhos na minha família, efeitos contrários ao que se espera deles. isso foi em junho de 2011, e aos poucos a dosagem vem aumentando. é um medicamento de tarja vermelha que somente pode ser vendido com retenção de receita e com apresentação de documento de identidade. o grupo dos ISRS não é de última geração, foi lançado nos anos 80, se não me engano. muitos amigos questionaram que surgiram outras coisas "mais modernas". só que minha terapeuta explicou que essas formulações mais antigas só contém a tal substância ativa e mais nada, já as mais modernas misturam outras coisas, e essas é que podem ter efeitos colaterais e causar dependência. ok, ok, o ISRS não é bala Juquinha, tem efeitos colaterais sim. o mais interessante de todos é a "ideação de suicídio". não, sério, vamos combinar, é muuuuito irônico. eu ri. acho que vou ter que fazer um post só sobre suicídio, mas já posso adiantar que, pra mim, não é uma saída, aliás, pra ninguém. enfim.

mas não parou por aí. por mais que não quisesse tomar remédio, acabei tendo que tomar mais um. a insônia, minha fiel companheira, melhor dizendo, esse encosto que não me larga há uns vinte anos, pelo menos, essa não vai embora. e o pânico piorando cada vez mais... caí no ansiolítico. é, tarja preta, a temida, venda com receita médica, aquele formulário azulzinho, e "o abuso deste medicamento pode causar dependência". o pior dos meus pesadelos. a dose é bem fraca. a insônia continua aparecendo como sempre, na madrugada, e o sono vem durante o dia. 

tive uma vizinha há muito tempo, da minha idade, aposentada por invalidez, um dia bateu na minha porta passando mal, taquicardia, com a mudança do remédio. a mãe não estava em casa, não conseguia taxi, eu já pensava em levar pro pronto socorro. ela disse que só queria conversar, que já ía passar. fui ao apartamento dela, dei água com açúcar, ela ficou sentada, e conversamos, eu tentando acalmá-la, rezando, jogando luz, me sentindo completamente impotente. a mãe dela chegou e ficou por isso mesmo. na época pensei "nossa, deus me livre disso acontecer comigo". ô língua! bom, dizem que aquilo que mais tememos vem nos encontrar no meio do caminho. sou prova viva disso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário