domingo, 12 de fevereiro de 2012

Crônicas Depressivas: A Terapia

venho fazendo um scrapbook da minha jornada ao fundo da alma, e achei que nada melhor do que a página ao lado para explicar como acontece o processo terapêutico, a arqueologia emocional. sim, porque o gatilho da crise, que ocorreu na madrugada do segundo dia do ano de 2011, me catapultou para uma depressão considerada leve. todo mundo que tomou conhecimento, inclusive eu, acreditou que seria rápido, que eu tiraria de letra essa fase ruim. menos minha terapeuta. o gerenciamento da crise foi só o começo. 

a pergunta que eu mais escuto de amigos e pessoas da família é "como uma pessoa tão inteligente, esclarecida, espiritualizada, profissional competente e experiente, talentosa, viajada, entrou numa dessa e não consegue sair?" bom, eu me fiz a mesma pergunta. foi difícil admitir que eu caminhei voluntariamente para o "evento", o gatilho da crise; foi difícil aceitar como reagi a tudo; foi mais difícil ainda perceber que a crise era apenas a ponta do iceberg. que a insônia crônica, a tortura de levantar todo dia de manhã, o descuido com a casa, com a saúde, as crises de sinusite sazonais, a exaustão constante, a dor física inespecífica, a imensa tristeza que sentia desde sempre, tudo fazia parte do mesmo pacote. foi difícil porque eu não queria admitir. não podia. não queria uma tabuleta no pescoço dizendo "louca do andar". não queria um carimbo na testa informando que sou uma doida certificada.

então eu fingi. que era normal. um tanto excêntrica, talvez. e tentei me curar sozinha quando vinham as crises eventuais. uma das frases memoráveis da minha terapeuta é "a mente que mente descaradamente". a mente me permitiu criar explicações plausíveis e perfeitamente lógicas pra tudo o que eu não queria reconhecer. então o tratamento não é consertar a mente, mas aprender o sentir. jogar fora as máscaras, o manto da invulnerabilidade. viver a vulnerabilidade, ficar em carne viva. desenterrar esqueletos de mágoa e emoções mumificadas. e um dia ficar livre. 

acho que é como a dor de crescer, e esquecer, é como interpreto os cavalos alados da música. mas a hora é de lembrar. mesmo que doa.



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